quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sobre uma quase prece por não ter pressa.



Enquanto a Vida me dá preguiça, eu vou percebendo mais e mais gentes correndo nas escadas rolantes, agitando objetos e batucando em filas de esperas, sacudindo pernas sob mesas. A pressa tem acometido o mundo, tem mordiscado os relógios das pessoas, deixando-os com menos horas pra viver, gastando seus momentos feito a loucura incendiando fortunas, e eu vou sentindo uma necessidade de anoitecer mais cedo, de me aquiescer só no momento agradável. Vou me atendo a um não ater-me a nada. Enquanto tudo corre, os jovens acometem-se de velhice, doença e morte prematuramente, eu vou exigindo de mim menos aceleração. Soltei as mãos de quem me puxava a correr, quero caminhar de mãos livres pra apontar, acariciar e colher flores pelo caminho que eu passar, mesmo que isso me fira em um espinho ou dois. Quero achar meu ritmo, meu tom, minha velocidade média sem deltas de tempos e distâncias, quero fazer minha própria formula pra achar o meu x de questão. Quero ser de novo algo novo nesse momento que, agora, já é passado. Quero me permitir não produzir, não correr, quero atrasar, e de propósito quero não chegar lá, quero desviar do pódio, quero por agora um terceiro lugar, menor, com menos desassossegos. Quero mudar a trilha, sair dos trilhos, fazer fumaça em outras fogueiras, quero soprar pra dentro de mim mesmo e bagunçar os cabelos da minha imaginação. Quero ser a contra-versão dessa correria produtiva que só faz estardalhar e mal pro coração. Quero aplacar essa pressa que tenho de não ter pressa nunca mais.

Phelipe Ribeiro Veiga
12 de Julho de 2012 - 23:58

"Alice: Quanto tempo dura o eterno?
Coelho: As vezes apenas um segundo."  Lewis Carol - Alice no País das Maravilhas


Um comentário:

Anônimo disse...

"Me traz o seu sossego, atrasa o meu relógio… acalma a minha pressa."
Lenine

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...