sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sobre sobrevivência e extinção.



Pobre homem  criatura pós moderna.
Em seus pulsos lhe pesam abotoaduras, na sua garganta enforca-lhe um laço de angústia, os modos e meios e formas, a palavra escrava da negócio-ação. Cobrem-lhe panos e mais panos prendendo-lhe o calor da pele, o respirar de tudo que é. Seus pés são apertados por um couro rígido. Pesa-lhe o não suar, o não cheirar, o não irritar-se, o não alter-se o ânimo, não pode ser feio nem baixo nem alto nem velho. Não tem sequer a liberdade de ser ignorante a uma coisa sequer. Pesa-lhe a produção, a motivação, a eficácia e a eficiência para as quais não nasceu para. Pesa-lhe o poder, e a missão de outro homem. Pesa-lhe fazer a manutenção de tantas vaidades alheias que pensa ser dele próprio. Acorrentado ao contator de sua miséria e daquilo que era tempo e virou contratempo, aquele metal espesso e mais pesado que o mundo, que o faz interromper o sono, correr no almoço, limita-lhe o estar bem, o estar com seu bem, o relógio, com seus ponteiros afiados feitos espadas girando em direção à sua garganta, onde a cada hora o homem pós moderno precisa desviar-se para não ser decapitado por ele. Pesa-lhe o mundo, a identidade perdida, o homem-função, o homem-promoção, o homem-cargo. Pesa-lhe o trabalho e a privação. Pesa-lhe ser, quando o homem bicho nasceu mesmo é pra não ser.
Por fim, já velho morre o homem pós moderno deixando de herança posições, cargos, mesas, cadeiras, placas, abotoaduras e tudo que lhe pesava e por tanto tempo lhe fez curvar, até atingir o solo e ultrapassar-lhe, descendo abaixo dele.
Pobre criatura moderna pós homem. Mais desnaturalizada que tudo que há na natureza, mais afastada do que qualquer coisa de qualquer coisa que nasce e cresce e morre. Pobre moderno pós homem.
Mas se não for assim, o que há de ser de ti? 
Ao que parece para sobrevivermos em parte nos extinguímos no todo.
Não há!

Phelipe Ribeiro Veiga
21 de Setembro de 2012 - 17:18

"Como pode um operário em construção compreender por que um tijolo valia mais do que um pão? Tijolos ele empilhava com pá, cimento e esquadria. Quanto ao pão ele o comia." Vinícius de Moraes


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