sábado, 9 de fevereiro de 2013

Sobre uma oração a Drummond. (Uma quase ficção).



"Sento-me aqui junto de ti poeta, para, mediante sua escultura sempre paciente, sempre imóvel (irredutível eu diria), diante do mar, rememorar a mim mesmo das coisas que são eternas. Venho a ti, poeta, para chorar e sofrer dos meus medos perecíveis que carrego. Tão perecíveis quanto a juventude que arde e me onera com esses efeitos colaterais do que é o excesso de disposição e desconhecimento que trago no peito. 

O Amanhã escancara a mandíbula e ainda não sei se se debruça em minha direção para beijar-me ou morder-me, ou ambos... Não sei ler os olhares dos olhos fechados do futuro. Só sei que temo. Os dias vão erodindo os próprios dias, e abrindo fendas na minha pele e nas distâncias que tão cuidadosamente tenho cultivado daqueles que amo. 

Não tenho mais de cem anos feito tu, poeta, não compreendo os amores não retribuídos de João e Teresa e Raimundo e Maria ou Joaquim, não sei lidar com as pedras que encontro no caminho, e talvez aprenda um dia, mas ainda não faço rimas com elas.  

E aí o que venho pedir afinal? O que me faz orar a um poeta (jamais) morto? 

A outra face do desconhecimento dos dias - a surpresa.

À luz de uma boa vontade, ao som do mar (mesmo longe do mar), que eu encontre rimas novas, textos que me gerem estupor e dias que me tragam sorrisos. Quem sabe o que o Amanhã, mesmo agressivo e vindo para o embate, sentirá ao ver-me sorrir para ele com tanta alegria e boa vontade? Poeta, me ajude a alegrar a tristeza e comover a violência e encontrar o amor e a não morrer de saudades. 

Com amor e um doce "Amém". "

E.M.

Phelipe Ribeiro Veiga
09 de Fevereiro de 2013 - 17:03

Baseado em fatos reais, sobre um menino que orava a Drummond e soube encontrar despretensiosamente com o poeta em três diferentes cidades. 



"Se eu gosto de poesia? Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo." - C. Drummond


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