quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Sobre a folha que cai.



O que faz sentido? Sensação. Instante. Momento. Felicidade. Contemplação.

Cobrimos a terra de asfalto duro e seco, cerceamos as raízes das árvores de nossa cidade, dissemos à natureza: "Até aqui você vai, não mais" e vivemos esperando sua réplica de conteúdo inesperado porém previsivelmente imperativo. Convivemos com as folhas das árvores caindo lentamente diante de nós num ensinamento sutil e de que em breve vêm a nossa vez. E vendo a folha desfilar uma coreografia toda única do galho em direção ao chão, eu sigo por uma rua que não tem o tamanho de um fio de cabelo na imensa careca do globo. Caminho pensando numa vida tão pequena e tão grande que é essa minha, agradecendo pelas escolhas que fiz, pelos olhos que tenho, pela minha capacidade de ver a folha caindo da forma como vejo. Caminho me utilizando de um auto-erotismo intelectual e sentimental num instante no qual não careço de nada nem ninguém, num mero prazer de ser quem sou me bastando intensamente, sentindo a satisfação do instante minucioso, o milésimo, o centésimo, o segundo. Esqueço a medida do instante não me importando se é grande ou pequeno. Acaricio minhas capacidades excitadas pela percepção ordinariamente única e deliciosa que tenho da folha que cai. Naquele instante não queria ninguém ali comigo, não queria estar em nenhum outro lugar, não queria fazer qualquer outra coisa. Naquele instante sendo lá o que seja tudo, houve um sentido mesmo que mudo. Naquele instante eu fui feliz. E a folha caiu ao som daquela canção que essas brisas de verão não cantam pra mais ninguém, ela encerrou sua dança de par com a brisa tocando o asfalto carinhosamente, e lá ficou sacudida vez ou outra pelos carros que passavam. E agora me ponho a pensar nela...

Phelipe

16 de Janeiro de 2015 - 00:23

2 comentários:

Ingrid disse...

tenha um bom final de semana.
beijo

Beatriz Adrien disse...

Isso me lembra um texto que escrevi sobre as folhas que vi na rua... Era gostosa a época da poesia em mim.

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...