sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Sobre o pecado do poeta.

 
 
No mundo da poesia não há infidelidades, desvirtudes, assassínios, falsidades, nenhum crime que se possa culpar o poeta, puní-lo ou condená-lo. Pois tudo quanto abre espaço às palavras e seus sentidos faz-se justificável, ou mais, um dever. O poeta é funcionário da ordem pública da beleza do mundo.
 
Há porém um pecado do qual o poeta não escapa (desmentindo o que eu disse mesmo agora, mas não há pecado nisso), para o qual não há remissão. É, mesmo em tempos tão digitais, não estar de posse de papel e caneta.
 
É feito um policial que procura ávido um fugitivo e quando o encurrala, encontra-se desarmado. O poeta é assim surpreendido pela beleza do mundo, e se vê incapaz de render a mesma, de levá-la finalmente, depois de ardua caçada, cativa das grades dos sentidos das palavras.
 
A chance perdida e a beleza mesmo repetida jamais se repetirá. O poeta deixou esvair um momento que não pode retornar. Ainda que escreva o mesmo tema, use as mesmas palavras, tudo mudou de instante e de lugar.
 
O poeta pecou.
 
Pois de tudo que há no mundo nem o pássaro precisa realmente voo alçar (veja pinguins e galinhas). Mas que criatura inútil e sem razão é poeta sem poetizar?! Pra que serve esse esdrúxulo ser a respirar e respirar e respirar?
 
Por isso pra me redimir é que decidi admitir tão somente o meu pecar. Castiga-me olhos que não param de me arrebatar! Castiga-me dolorosamente, langorosamente! Castiga-me!
 
Phelipe Ribeiro Veiga
06 de dezembro de 2012 - 18:51
 
 

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