segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Sobre o corpo não como um resort.




Há que se pagar o aluguel, 
pouco importa se no prazo ou fora dele.
São 8 horas de sono,
4 refeições mínimas somando 2000 calorias, 
1 a 2 banhos, 
além de cuidar de hidratar a pele 
para evitar comichões.
É isso ou ser despejado. 

De outro modo, o que restaria? 
Uma alma (mais) sem-teto? 

E para lidar com o passar dos anos, 
é preciso cuidar da casa
sob pena de desalojamento antecipado. 

Verificar a rótula dos joelhos, 
reduzir o açúcar,
controlar o colesterol 
e não deixar nunca a tensão sexual infiltrar nas paredes. 

Até que, enfim, 
um dia a casa cai. 

Só então, 
uma vez devolvido o terreno, 
nos vemos livres dessa cota diária por moradia. 
Quanto aos escombros? 
Finalmente alguma coisa com que não precisamos nos preocupar. 

Phelipe R Veiga
Irvine, 7 de fevereiro de 2022


“Nada é presente, é tudo emprestado. 
Estou com dívidas até o pescoço. 
Comigo mesma, que eu deverei pagar por mim mesma. 
Dar a vida por minha vida”. (Wislawa Szymborska)

Um comentário:

Anônimo disse...

Teus versos me trazem a memória a canção Eu não sou da sua rua- Marisa Monte.
Estamos aqui de passagem, somos inquilinos do mundo, da vida e até do nosso próprio corpo.
Por isso, precisamos descobrir a melhor maneira de manter tudo minimamente habitável e aconchegante, para que a nossa estada aqui tenha suas adversidades minimizadas.

Adorei "te ler", Cara.

Um abraço, Lara Ling 😘

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...