domingo, 10 de abril de 2022

Sobre um girassol arrancado.


O caminho envelhece cedo.
Há rugas na estrada. 

Toda vez que eu passo naquela esquina, você tá bem ali. 
Toda vez que eu olho no mapa voltamos pra aquele mesmo banco de novo.  
A memória vai criando estátuas de bronze inamovíveis pelos lugares que eu passo. 

É o paradoxo em que me vejo: 
tudo vai ficando enquanto eu vou passando.
Tudo é tão indispensável 
enquanto eu vou constatando minha irrelevância. 
Dentro é caos e fora é despedida. 

Meu corpo sul-americano e expatriado tenta se orientar por um sol nortenho estranho, 
que arde sem deixar marcas. 
É como se passasse por mim sem me notar. 
Como se resistisse a mim e eu a ele. 
O sol não abraça o meu corpo.

Escorrego pra dentro.
 
Phelipe Ribeiro Veiga
Irvine, 10 de abril de 2022.

"os ventos do norte não movem moinhos" (João Ricardo / Paulinho Mendonça) 

"Mas não importa, não faz mal
Você ainda pensa e é melhor do que nada
Tudo que você consegue ser...
Ou nada. (Milton Nascimento)




Nenhum comentário:

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...