domingo, 1 de maio de 2022

Sobre os quadros na parede.




De volta àquela casa anterior 
sinto tudo mudado.

Novos lugares, novos olhares. 
O conhecido, desconhecido.
O de sempre, nunca mais.

Havia uma sensação de descarrilamento do que antes 
parecia certo e concreto feito um destino. 
Um descontrole que se dá por alternativa única. 
A parede mais escura do fundo me lembra 
dessa escuridão como rumo 
que amedronta e excita 
feito a própria vida.

Eu sento e olho ao redor as velhas coisas com ares novos e poeira antiga.

Será que fui eu quem mudei? 
Andei tanto. Parei tanto. Corri tanto.
Na contagem de suspiros eu fui à Lua e voltei.

Paro.
Respiro compassado num corpo que ainda habita, 
parcialmente, um tempo passado. 

Encaro os quadros e a ousadia deles 
de permanecerem os mesmos, no mesmo lugar.

O da esquerda marcando a parede amarelada. 
O do meio descascando a ponta superior esquerda.
O da direita ainda torto como estava quando eu parti.

Os quadros me lembram do que resta intocável: 

Nem tudo muda.
Talvez nem dentro de mim. 


Phelipe Ribeiro Veiga
2 de maio de 2022, 01h57

"Mudaram as estações. Nada mudou. Mas alguma coisa aconteceu. Tá tudo assim tão diferente." Renato Russo. 


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(...)

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