segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

“TANTO...”

Há palavras que valem um vocabulário inteiro.

Elas são como caixas, um contêiner, uma comporta, uma ante-sala de um infinito de possibilidades semânticas.

Há palavras que parecem trazer consigo um eco siamês. Fosse ela um corpo, esse eco seria o osso, estrutura, como se sem toda sua infinita continuidade de dentro pra dentro, ela sequer pudesse sobreviver ou parar de pé.

Há essas palavras. Algumas verbo, outras ad/vérbios. Algumas terminadas com A, outras não. Todas, porém, acompanhadas de compulsórias reticências. 


São essas as palavras mais verdadeiras. Contam o grande segredo silencioso que se esconde por detrás de todo ruidoso falatório humano:


A palavra não diz nada! E é essa a sua gravíssima função. A de nos lembrar que palavra alguma diz qualquer coisa. Estamos sozinhos num vazio enorme que preenche tudo.


Há palavras. O que não há é sentido. 

E há palavras que denunciam isso. 


Feito a caixa de Pandora, ao abri-las com a língua afiada e desesperada, há um vazio interrompido unicamente por uma morna esperança de um dia poder dizer com ela alguma coisa. E quem sabe ser até entendido? 


Quem sabe?!


Não há!



Rio de Janeiro, 04 de janeiro de 2021. 20h22


“Quando pronuncio a palavra Silêncio,

destruo-o. Quando pronuncio a palavra Nada,

crio algo que não cabe em nenhum não-ser.” (Wislawa Szymborska)


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