terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Eu te dei um jogo tão fácil pra você jogar. Começou comigo te mostrando meu jogo todo, depois comecei a te emprestar minhas peças, até que me vi basicamente roubando a seu favor pra você me ganhar. Comecei lendo só as regras que te beneficiavam, bem fácil. Depois acabei inventando novas regras pra te ver vencer e fui ignorando mesmo elas, até que eu me vi jogando por você. E pouco a pouco notava que seus olhos sequer estavam no jogo. Via, distraidamente, coisa qualquer. Notava o formato das nuvens, o vento nas folhas, os aviões que passavam e comentava comigo as notícias do dia enquanto eu me cansava sustentando o meu e o seu jogo. Eu te dei um jogo tão fácil porque eu queria que você (me ganhasse) e eu te daria a mim mesmo por prêmio. Mas você achou tudo muito complicado, tudo muito difícil, a cadeira dura, o objetivo do jogo cansativo. Você achou tudo tão chato! E eu? Bem, começou comigo jogando contigo. Até que me vi: minha cadeira vazia, meu jogo parado, e eu sentado no seu lugar tentando te fazer ganhar. Você? Levantou. Foi esticar as pernas. Ver a paisagem. 

Ver a paisagem... 


Phelipe R Veiga
Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 2021, 19h15

"é mistério mesmo ou só tirania?" (Luedji Luna)


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(...)

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