segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Sobre o compromisso a que faltaremos todos




Temos todos um compromisso a ser faltado. 

Pode ser que seja um aniversário, um bar, uma consulta médica, uma reunião de trabalho ou mesmo uma ida à padaria interrompida. Todos nós um dia não chegaremos ao destino planejado. Pode ser que haja alguém à espera. Pode ser que haja alguém a ser avisado: "não chegará mais". Teremos ficado pelo caminho, alguns antes mesmo de sair de casa, outros sem a chance de voltar pra casa. Não sabemos dizer quando, se será uma terça, uma quarta, um fim de semana de sol. E os eventos ocorrerão sem nós. Alguns, de menor proporção, sofrerão a dolorosa interrupção advinda do nosso não chegar mais, outros seguirão como se nada. Nos dias que se seguem E-mails importantes seguirão chegando, boletos, entregas esperadas, e tudo isso já sem ter quem os leia ou receba. Nosso não comparecimento, pode ser, produzirá um ou dois eventos aos quais também não estaremos senão como justificativa. Festivais de anedotas alcoólicas são de costume. E então, outros novos eventos já não contarão mais com a gente. Tudo sem nós. O cardápio de desvios do nosso roteiro é imenso: podemos cair no banho, sucumbir a uma dor antiga, sermos atingidos por um carro desavisado, ou mesmo pifar feito uma TV que um dia liga e no outro não mais. Poderá ser um suspiro íntimo, ascético e silencioso, ou um espalhafatoso ato público com testemunhas e nota no jornal. Fato é que não chegaremos mais. De modo pontual, definitivo e irremediável, atenderemos ao compromisso último e antigo, agendado como cláusula pétrea desde a nossa chegada. Faltaremos todos para atender a esse compromisso.

Há! 

Phelipe Ribeiro Veiga
01 de fevereiro de 2021, 13h51

Ela virá me abrir a porta como uma velha amante
Sem saber que é a minha mais nova namorada. (Vinícius de Moraes)

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(...)

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